segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vira-Casaca: uma herança que vem da Roma antiga


Mesmo que você (como a maioria) não goste e não entenda de política e dos políticos, a lei, feita por políticos, lhe obriga a participar do processo de escolha de nossos governantes e representantes. Isso acontece graças à excrescência chamada voto obrigatório. Sem dúvida, o voto facultativo aufere melhor a vontade do eleitor.

Brasileiro não sabe votar, assim disse o Rei Pelé. Mas pelo menos se tem o sagrado direito de eleger os representantes, ao contrário da Grécia clássica, berço da democracia, período em que os governantes eram escolhidos por sorteio. Os gregos entendiam que uma escolha ao acaso se tornava mais barata e funcionava melhor do que o voto da maioria, que poderia ser comprado pelos vigaristas profissionais da política.

No bojo dessa questão, está a discussão envolvendo a infidelidade partidária – prática habitual dos políticos vira-casacas –, que descaracteriza o candidato eleito, viola o princípio democrático e, portanto, rompe o pacto entre representantes e representados. Tomara que a tão falada reforma política seja, finalmente, votada e aprovada.

Bom, mas a indignação maior do povo brasileiro é com o chamado político “vira-casaca”, indivíduo que, com ou sem mandato eletivo, muda frequentemente de sigla partidária ou de idéias, sempre por conveniência própria. Aquele que comumente é chamado de “ventoinha”, por girar conforme o vento. Ou, ainda, de “girassol”, por estar sempre virado para o lado do Poder, inclusive com uma grande capacidade de bajular seu chefe.

O vira-casaca é um traidor em potencial. Pode ser encontrado nos mais diversos quadrantes da sociedade: da religião à politica, passando pelo esporte e acabando na orientação sexual. Ele anda nas sombras e observa o inimigo a todo o momento. Nunca impõe suas opiniões porque não as tem. O fato de ser “viracasaca” é justamente para preencher o vazio de idéias, porque caso contrário, ele poderá até morrer de fome. Coitado !!!

Sai prefeito, entra prefeito e o vira-casaca lá está, impassível, cara-de-pau, tirando proveito, mamando na teta que poderia ser de outro. E o que é pior ainda: não permite o acesso das pessoas competentes, já que os vira-casacas são literalmente indivíduos incompetentes para exercerem cargos públicos.

Claro que qualquer um de nós pode mudar seus ideais políticos. Somos livres para isso, constitucionalmente. No entanto, o vira-casaca é um traidor por excelência. Ao trocar de partido ou de facção política, ele o faz sempre escolhendo o lado vencedor. Isso ocorre, preferencialmente, no último instante, ou no momento posterior às eleições, quando o seu lado escolhido foi o perdedor.

A falta de personalidade do vira-casaca é tanta quanto à falta de escrúpulo do político que aceitou lhe adotar, lhe acolhendo em suas hostes, por vezes, logo na primeira investida. Quer dizer: se um é traidor de sua responsabilidade individual, o outro é traidor do povo, que desejava mudanças quando nele votou.

Não é preciso pesquisar muito para se descobrir o que a história mundial registra - com eloqüência - quanto às peripécias dos vira-casacas. Vem desde a Roma antiga, passando pelos tempos medievais, e remontando aos dias de hoje. Porém, foi na idade média que esses inescrupulosos enganadores mais se destacaram. Naqueles tempos medonhos, os feudos eram caracterizados pelas cores das roupas. Então, os vira-casacas contumazes mandavam confeccionar os casacos com duas cores. A cor do “amo” por fora e outra cor do “desafeto” no avesso. Com esse artifício entravam e saíam dos castelos à vontade, bastando virar o casaco ao avesso, ou vice-versa.

Carlos Manuel III, duque de Savóia e rei da Sardenha, é um exemplo de vira-casaca famoso. Sempre ameaçado, ora pela Espanha, ora pela França, usava as cores nacionais de uma dessas nações, de acordo com a aliança do momento. Daí o vocábulo vira-casaca, usado para denominar a pessoa que muda frequentemente de opinião, de partido político ou de idéias, visando atender a seus interesses particulares.

No Brasil, Joaquim Silvério dos Reis foi um típico modelo de vira-casaca traidor. Em troca do perdão de sua imensa dívida fiscal junto à Fazenda Real, denunciou a organização de uma conspiração que desejava transformar a Capitania de Minas Gerais em um estado livre, comandada por Tiradentes. Enquanto isso era comum suas entradas e saídas do palácio Visconde de Barbacena, então sede da realeza.

Semelhante a Carlos Manuel III, ou a Joaquim Silvério, o vira-casaca é um sujeito com instinto traidor e nele não se pode confiar. Sobretudo aquele que só pende para o lado dos vitoriosos. Infelizmente, na política atual, em todo e qualquer lugar (incluindo os EUA), os vira-casacas se multiplicam. Eles são, reconhecidamente, um ‘prato cheio’ para os políticos que adoram ser bajulados.

Esses “puxa-sacos” de plantão causam enormes prejuízos aos cofres públicos, pois que, assim como o coronel Silvério dos Reis, deduram os amigos em troca de benefícios financeiros. São autênticos vermes viciados em lucros gratuitos, com a ambição de se sentirem excelências, na verdade preparados para novas traições. E a lição que fica para a população é clara: a classe política, que continua com uma imagem ruim perante o eleitorado, se afunda ainda mais com esse lamentável comércio, o famoso “toma lá, dá cá”.

Colaboração: JOSÉ BONIFÁCIO BEZERRA
Santa Filomena – Piauí
(89) 3569-1125


FONTE:http://www.cabecadecuia.com/noticias/41736/vira-casaca-uma-heranca-que-vem-da-roma-antiga.html

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